segunda-feira, 22 de agosto de 2016

MP recomenda audiências públicas da Votorantim em municípios vizinhos

Um local cercado por formações rochosas e muita vegetação, ruas calçadas e muita história para contar. Assim é o distrito de Minas do Camaquã, que já viveu a pujança da mineração.
No século passado, o pequeno vilarejo, que pertence ao município de Caçapava do Sul, abrigou a antiga Companhia Brasileira do Cobre (CBC), do industrial ítalo-brasileiro Francisco Pignatari (Baby), desativada no final dos anos 80, e hoje vive a expectativa da implantação do Projeto Caçapava do Sul, da empresa paulista Votorantim Metais Holding e da canadense-norueguesa Iamgold.
As companhias estão buscando a licença ambiental junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luís Roessler (Fepam) e podem apresentar a proposta em Bagé, distante 124 quilômetros do local.
O projeto foi apresentado em duas audiências públicas no final do mês passado. O empreendimento será o primeiro polimetálico da companhia no Rio Grande do Sul. A consulta pública representa o início do processo de licenciamento, que conta, posteriormente, com as fases de obtenção das Licenças Prévia (LP), de Instalação (LI) e de Operação (LO).
Resultado de oito anos de pesquisa, o projeto prevê a lavra e beneficiamento de minerais polimetálicos: zinco, chumbo e cobre. O depósito mineral foi denominado geologicamente de Santa Maria. Estima-se que o depósito tenha 29 milhões de toneladas de reserva mineral. Estudos indicam a disposição mais adequada do ponto de vista sustentável para exploração de uma mina a céu aberto, composta por três cavas, e vida útil estimada em 20 anos.
O investimento previsto é de R$ 322 milhões e a expectativa é de que 450 empregos diretos sejam gerados na fase de operação, prevista para 2019. A produção estimada é de 36 mil toneladas por ano de chumbo contido, 16 mil toneladas por ano de zinco contido e cinco mil toneladas por ano de cobre contido. O cobre e o chumbo serão exportados via Porto do Rio Grande. Já o zinco será transportado para as metalurgias da Votorantim Metais, localizadas nas cidades mineiras de Juiz de Fora e Três Marias.
Novo debate

As novas audiências ainda não foram marcadas. Segundo o engenheiro responsável pelo projeto Caçapava do Sul, Paul Cézanne, a empresa ainda não foi informada oficialmente da necessidade de realizar as agendas. "Estamos na primeira fase de análise do órgão ambiental" informa.
Expectativa

Vivendo a expectativa da retomada da mineração, a presidente da associação de moradores de Minas do Camaquã, Guacira Pavão, salienta que o distrito, no passado, atraiu mais de cinco mil moradores, recebeu a visita de governadores e de presidente da República. "Hoje, somos cerca de 500 habitantes, que vivemos o abandono do poder público", desabafa.
Guacira argumenta que as casas e praticamente todo o vilarejo foram construídos e mantidos pela antiga mineradora. O lugar já teve clube com sauna e piscina, hospital com bloco cirúrgico e laboratório de exames, escola, ginásio poliesportivo e até um cinema de madeira erguido ao estilo de um saloon americano, com direito a porta vaivém na entrada. "Nenhum morador pagava aluguel, luz ou água. Todos os gastos eram cobertos pela CBC", lembra.
Filha de minerador, a moradora de 57 anos foi viver no local em 1961, só deixando o distrito para estudar. Técnica em projetos, conta que aos 13 anos participou de um trabalho escolar e foi escolhida por Pignatari para trabalhar na empresa. "Com 14 anos fui efetivada", recorda.
A moradora enfatiza que Minas do Camaquã é considerado o quinto ponto magnético do Brasil, e, por ter uma formação rochosa única, hoje vive do turismo de aventura. A comerciante ressalta que a expectativa da retomada da mineração é alimentada há muitos anos.
O esposo de Guacira, Luis Paulo Pavão, foi engenheiro de minas da CBC de 1976 a 1996, e em 2002 auxiliou no desmembramento da companhia para que as casas e locais pudessem ser vendidas para os moradores. Segundo Pavão, a maior expectativa é pela retomada do desenvolvimento, que, para ele, será alavancada à medida que a mineração se estabeleça. "As pessoas irão se interessar pela área e trará muita gente de fora", acredita. Hoje a família administra um restaurante e uma pousada.
Turismo
O distrito recebe vários estudantes de geologia, biologia e ufólogos, que visitam a área para realizar pesquisas. Desde 2013, as visitas são coordenadas pela empresa Minas Outdoor Sports. Entre os passeios são oferecidos city tour, área industrial, além do muro de escalada, tirolesa, acampamento, pousadas, alojamentos e cicloturismo. As atrações turísticas incluem a Pedra da Cruz, a Barragem João Dias, a Casa de Pedra, o Cine Rodeio, a Mina a Céu Aberto e a Mina Subterrânea.
O vilarejo possui um posto de gasolina, quatro pousadas, dois restaurantes, três supermercados e posto de saúde, além de um parque temático de aventura ao ar livre, desenvolvido para oferecer experiências memoráveis junto ao ambiente natural. Zona de beleza exuberante, a região foi cenário de filmes e séries de televisão.
Nas Guaritas, onde hoje funciona a associação dos moradores, o ator Walmor Chagas deu vida a Bruno Stein, um alemão fugitivo da Segunda Guerra Mundial que se apaixona pela sua nora, nesse lugar que corresponde à porção mais preservada do Bioma Pampa, com mais de 80% dos campos formados por vegetação nativa. O local até hoje sofre as consequências negativas da exploração do minério. Quando acabou a riqueza do solo, restaram uma barragem de rejeitos prestes a se romper, um arroio assoreado e pastagens nunca recuperadas.
Tecnologia e sustentabilidade
Segundo a assessoria de comunicação da Votorantim Metais Holding, a empresa desenvolve e fomenta inovações e tecnologias que transformam e geram valor para a sociedade, inspirando soluções para o futuro.
Aliada ao seu compromisso com o meio ambiente, a Companhia investe, continuamente, em aplicação de novas tecnologias, pesquisas, estudos e ações de melhoria e mitigação de riscos e impactos de suas operações. Para o Projeto Caçapava do Sul, a Votorantim Metais prevê iniciativas diferenciadas para esses temas, que são traçadas já na fase de engenharia conceitual dos empreendimentos.
A empresa minero-metalúrgica, que compõe o portfólio da Votorantim, está presente em quatro países (Brasil, Peru, Estados Unidos e Áustria) e atua globalmente no mercado de mineração e metais não ferrosos. É uma das cinco maiores produtoras de zinco do mundo.
Para o Projeto Caçapava do Sul, a companhia defende o modelo de gestão hídrica com maior foco na recirculação, buscando atingir uma eficiência hídrica, que prevê a recirculação de 100% da água de processo, evitando, assim, nova captação nos mananciais da região. Além do benefício ambiental, a recirculação de água permite, também, redução de custos na operação, a partir da redução de investimentos em captação e tratamento de água; e de manutenção do circuito de bombeamento.
Uma alternativa tecnológica considerada de grande importância para os novos projetos de mineração é a adoção da forma de disposição dos resíduos em pilhas de rejeitos a seco. Os rejeitos são dispostos numa superfície devidamente preparada para evitar qualquer contaminação do solo, recirculam a água e ainda ocupam menores áreas em relação às barragens. Essa estrutura substitui a tradicional barragem com água para contenção de rejeitos.
A sustentabilidade integra a estratégia de negócio da Votorantim Metais. A empresa trabalha alinhada ao Instituto Votorantim para contribuir com o desenvolvimento das comunidades onde está presente, mesmo antes do início da operação. Desta forma, em Caçapava do Sul, já foi dado início aos projetos Parceria Votorantim pela Educação (PVE) e Apoio à Gestão Pública, que preveem, respectivamente, a realização de iniciativas para a melhoria da educação e a modernização da gestão pública.


Por: Jaqueline Muza

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